sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Corre que hoje é dia de encher panela!


- Mãe! Pega a panela e a bolsa!
- Quê, meu filho?
- Hoje é dia de dar doce, mãe! Cadê a bolsa de mercado! 
- É mesmo. Ah! Que saudades da minha época...
- Mãe, a senhora vai ficar com saudades ou vai me ajudar a pegar doce?
- Tá bom, menino. Vamos lá!
A mãe preparou tudo o que ele precisava; um tênis confortável, um boné escondido e uma blusa diferente na mochila. Assim ele podia pegar doce duas vezes na mesma casa; era só mudar de traje para disfarçar. Estava com a mochila cheia de sacolas plásticas e a panela de pressão aberta em casa na espera.
- Mãe, você vai comigo?
- Eu, meu filho? Mas eu já tô velha, não pego mais doce.
- Mãe, não posso ficar andando sozinho por aí. Você me segue de longe, que tal? Ainda tem aquelas casas que eu tenho medo, né?
- Medo? Ah! Não acredito que você está com medo da nossa vizinha da umbanda!
- Ah! Mãe. Dizem que doce de santo faz mal.
- Por acaso, você acha que os santinhos vão fazer mal para alguém? Eles são como os santinhos da igreja, só que de outra religião! Tá bom, eu vou com você.
E saíram os dois. Dona Penha reparava o quanto as crianças estavam felizes correndo para lá e para cá para pegar doces. Eram 9 da manhã e já tinha criança com sacola cheia. Seu filho parou na primeira casa e recebeu o saquinho mais feliz impossível. Ver aquele sorriso largo procurando os "cocôs de rato" era impagável. 
- Mãe, você quer o quê? - disse o menino mostrando o saco de doce para a mãe.
- Em casa a gente vê isso, filho. Vamos pegar mais doces, que tal?
Na outra casa, o menino parou fingindo que iriam dar doce. Em dois minutos a fila já tinha mais de 50 crianças. Depois disso, ele correu morrendo de rir porque tinha enganado aquele monte de crianças. A mãe deu uma bronca nele, mas desatou a rir do que tinha acontecido. Ela também fazia isso em sua época. Em meia hora ele já tinha trocado de camisa e pegado doce duas vezes em cada casa que já tinha pego. Sua mãe ficava de longe se divertindo com tudo aquilo. Era uma correria alegre pelas ruas. Todos rindo, todos com a pança cheia. Tinha dia mais feliz? Nem o Natal era tão bom.
- Aqui tem festa de São Cosme e São Damião - gritava a mulher toda de branco com um turbante na cabeça - venham crianças! Venham! É festa dos Ibejis!
O menino ficou com um certo medo, mas olhou para sua mãe que sorria convidando-o a entrar com ela. Deram as mãos e entraram. A festa foi linda. Teve dança, cantoria e muitos, muitos doces. Mãe e filho foram embora com o coração leve, as barrigas cheias de doce e sorrisos grandes nos lábios.
Os santinhos irmãos os abençoavam de longe no invisível.
Mãe e filho eram o verdadeiro doce do mundo; eram amor entrelaçados.
Cosme e Damião sentiram-se felizes. 
Mãe e filho foram para casa.
Cosme e Damião voltaram a abençoar as pessoas.
Foi um dia feliz.

Carla Luz

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