A educação do Rio de Janeiro como
vem acontecendo entrará em colapso. Estamos transformando mentes criativas e
divertidas em "repondedores" de questões objetivas. Pessoas que
recebem informação fácil e respondem questões. Quando usaremos o cérebro para
pensar? Quando resolveremos problemas? Quando saberemos usar a língua
portuguesa nas situações reais? Como fazer essas coisas se as provas são todas
iguais para todos? Somos seres diferenciados e precisamos ser tratados
diferentemente! Esperar as mesmas respostas, é transformar-nos em cubículos
iguais, em massa para ser moldada e para ficar igual. Por quê?
Por que entramos na escola
simplesmente para cumprir metas? Por que temos que aprender o que aprendemos?
Que diferença isso faz? Por que não nos é permitido nem questionar tais coisas?
Eu só tenho perguntas e nenhuma perspectiva de resposta!
O única opção que encontro na SME
é abaixar a cabeça e concordar, pois só assim não levo borrachada, gás de
pimenta, porrada na cara. Só assim meu salário é pago, só assim posso continuar
sendo consumidora? É isso mesmo? É para isso que serve a escola? Para
aprisionar o professor no salário pago e o aluno na nota 10, no passar de ano?
O que é aprender? É decorar e repetir? Responder com X, marcar V ou F? Pintar o
Saci todo dia 22 de Agosto? Pintar flores na Primavera (que nem existe direito
no Rio de Janeiro onde o termostato é frio ou quente. E muitas vezes, só
quente). Cantar musiquinha em toda data comercial? (por que hoje em dia a
escola nos ensina a ser consumidor, não é? Já que comemoramos todas as datas
comerciais (dia das mães - damos presente - dia dos pais - mais um presente -
dia das crianças - mais um presente - natal - mais um presente).
Estou em greve porque questiono
tudo isso. Por que acredito que a educação serve para emancipar, serve para
clarear, para questionar e muitas vezes para não aceitar o que nos é dado
obrigatoriamente. Usando a violência não, mas com diálogo - que nos foi negado
nos acordos com o Senhor Patrão (se ele não sabe, foi esse o motivo de
voltarmos a greve, tá?).
O senhor Patrão tinha combinado
em ata (assinada e saída no diário oficial) que sentaria com a categoria
representada pelo sindicato para discutir os problemas e JUNTOS preparar um
Plano de Cargos, mas o que aconteceu? Tcharã! Ele apareceu com os aliados
(porque os políticos da oposição também não estavam por lá) mostrando uma
Plano. O que nós fizemos? Fomos analisar o plano, é claro. Mas foi um plano
ruim, muito ruim. Não englobava 90% dos professores do município. Só falou-se
sobre os de 40h. E o principal assunto foi o salário. Claro que o salário é
algo importante! Claro! Vivemos num mundo capitalista em que o dinheiro é
assunto central. Mas, mesmo assim, não era bom! Onde ficavam os professores de
16h? 30h? 22h30? Quando li o plano me
senti o homem invisível, já que não estava representada lá. A greve voltou
pedindo uma negociação para que o plano fosse refeito, respeitando-se todos os
profissionais existentes na rede.
Os próprios políticos aliados da
base do prefeito perceberam que faltavam coisas e fizeram várias emendas
(remendos para incluir coisas que faltavam). Ótimo, pois mostrou que estava
faltando muita coisa. Mas fomos olhar essas emendas e ainda assim não estava bom.
Pedimos diálogo, mas o que aconteceu foi uma reunião a portas fechadas para que
todos os aliados pudessem dizer "SIM" para o plano que é muito ruim.
E como a reunião foi fechada? Tacando bomba em professores, spray de pimenta
mesmo em quem não estava depredando, em quem estava parado sem causar danos. A
única coisa que esses professores fizeram foi QUESTIONAR!
Estamos sendo pressionados de
todos os lados. Em nossa instituições, as direções fazem pressões, os próprios
colegas nos pressionam, tanto para entrar em greve, quando para sair dela. Os
olhares de desconfiança, os xingamento por parte dos pais (que nos chamam de
"filhas da puta" pela rua - sim, ouvi isso hoje). Gostaria que
houvesse no mínimo o respeito, mesmo que não concordem conosco.
Se os pais olhassem para nós e
não somente para os seus umbigos, saberiam que a luta dos professores é muito
mais pelos seus filhos do que por nós mesmos. Se fosse só uma questão salarial,
já teríamos saído da greve faz tempo. Recebemos um aumentinho, iriamos para
casa mais sorridentes. Seus filhos continuariam com suas aulas de merda, suas
merendas ruins, suas salas super lotadas, quentes, seu material robotizado e
tudo mais. Mas não. Os professores estão aí reivindicando uma melhora de
verdade! Uma melhora de salário para nós? Sim, claro. Mas uma melhora da
educação, no que ela tem de primordial! Uma melhora de material, uma melhora no
ensino para que seu filho não seja mais um merda repetidor de questões. Um cara
que só vai ter aquele empreguinho sem questionar, só vai ter dinheirinho para a
cerveja e que não tem visão de futuro. Queremos uma educação que questione a
televisão e não somente sente para torcer para o próximo ganhador do BBB,
enquanto não questiona quanto a televisão ganha através das milhares de
ligações a 0,31 centavos (64.000.000 - 64 milhões de ligações a 0,31 é igual a
19 milhões, 840 mil reais - isto somente num único dia de ligações).
Eu desejo uma educação no mesmo
padrão dos filhos dos ricos, dos colégios de elite da Zona Sul, dos filhos do
Patrão, entende? O pouco que temos de bom, é feito pelo sacrifício dos próprios
professores que colocam seu dinheiro para dar um livro para o aluno, para
enfeitar a sala porque não temos material, que correm atrás e fazem cursos aos
sábados porque o município não liberou para ele estudar e se aprimorar... (e
não esqueça, aquele salário ENORME que apareceu na televisão, que seria dado
para o professor em final de carreira com pós doutorado... só será dado ao
professor que estudar 15 anos. Você imagina isso? Alguém que estuda 15 anos
para ser desvalorizado, xingado pelos pais, sacaneado, com seu orgulho
ferido... )
E do jeito que está, a educação
que temos no Rio de Janeiro... só teremos, cada vez mais professores doentes
(eu já estou indo ao psiquiatra), crianças repetidoras, que aceitam tudo sem
questionar, que não perguntam sobre nada, só aceitam. Que são ótimos eleitores,
pois só veem o seu umbigo, aceitam qualquer propinazinha, qualquer camiseta de
político, qualquer 50 contos para votar nos filhos da puta que estão aí.
A educação do jeito que está, tem
nos transformado em robôs humanos. Cabeça baixa, aceitadores de qualquer regra,
não questionadores, mas ótimos eleitores e consumidores. Por que é isso que o
governo vem querendo; bons eleitores para manterem-se na mamata (vide os
políticos que são filhos e netos de políticos... um bom negócio, né? Daqui a pouco teremos tataranetos do Brizola, do Coronel Jairo, Felicianos, Bolsonaros (eca!)), bons
consumidores para gastar (e muitas vezes se endividar) e que fiquem calados
para não questionarem e não ameaçarem suas vidas estabilizadas.
Mas EU QUESTIONO, EU PERGUNTO e
sei que isso precisa mudar.
PS: Olha que eu nem falei do Professor de Ensino Fundamental... esse professor polivalente que é um desastre total para o ensino! (isso merece outro texto!)
Eu não sei fazer greve direito... mas resolvi fazer o que faço de melhor, escrever!
Estou alegre por encontrar blogs como o seu, ao ler algumas coisas,
ResponderExcluirreparei que tem aqui um bom blog, feito com carinho,
Posso dizer que gostei do que li e desde já quero dar-lhe os parabéns,
decerto que virei aqui mais vezes.
Sou António Batalha.
Que lhe deseja muitas felicidade e saúde em toda a sua casa.
PS.Se desejar visite O Peregrino E Servo, e se o desejar
siga, mas só se gostar, eu vou retribuir seguindo também o seu.